data-filename="retriever" style="width: 100%;">A noção de midiatização, à luz de Fausto Neto, Gomes, Braga e Ferreira (2012-2016), trata da ambiência e da produção de sentidos que circulam segundo regras e dinâmicas, dentre elas, os processos interpretativos da comunicação. Já o conceito de analítica vem a seguir, conforme a elaboração de um mapeamento.
Paschoal (2001), ao falar sobre o termo analítica, diz que o mesmo foi utilizado pela primeira vez para designar alguns escritos de Aristóteles que tratavam da Lógica (Primeiros Analíticos e Segundos Analíticos). Seguindo a tradição que se constituiu a partir do filósofo grego, o termo indica um sistema que procede por análise, ou seja, por meio da separação de um todo em suas partes para que, no estudo em separado das partes e na busca da inter-relação entre elas, se tenha uma melhor compreensão do todo.
O filósofo alemão Martin Heidegger usou o termo "analítica" (Analytik) em sua obra "Ser e Tempo" (1927), em lugar de "análise" (Analyse). O termo analítica, utilizado por Kant e retomado por Heidegger, não conduz a uma desintegração do fenômeno, mas sim ao seu caráter originário, ao seu sentido, sua condição de possibilidade. A analítica tece e destece para libertar o sentido que possibilita o tecido e para vislumbrar o próprio tecer e re-tecer. Esta é a via pela qual Heidegger compreendeu a analítica.
Conforme Oliveira (1996), enquanto no olhar e no ouvir "disciplinados" - a saber, disciplinados pela disciplina - se realiza a nossa "percepção", será no escrever que o nosso "pensamento" se exercitará da forma mais cabal, como produtor de um discurso que seja tão criativo quanto próprio das ciências voltadas à construção da teoria social. Desta forma, por exemplo, os colunistas olham, ouvem e escrevem, segundo enquadres e estilos próprios, produzindo um discurso a ser posto à disposição de outros processos interpretativos dos seus leitores.
Japiassú e Marcondes (2001, p. 13), no Dicionário Básico de Filosofia, afirmam que "analítica diz respeito ao processo de referenciamento da realidade, o mundo externo, por exemplo, por meio de análise". Eles observam que "uma proposição é analítica quando se pode validá-la ou invalidá-la sem recorrer à observação, embora ela não forneça nenhuma informação sobre a realidade". Em Aristóteles, citam os autores, "a analítica é a parte da lógica que trata da demonstração". Já em Kant, eles destacam, que "é a parte da lógica transcendental (analítica transcendental) que tem por objeto a decomposição de nosso conhecimento a priori nos elementos do conhecimento puro do entendimento", isto é, das categorias.
Em Tiempos y Escrituras, Verón (2011) fala sobre a dimensão temporal da atividade da escritura. Ele distingue três construções para este cenário: a temporal, a do espaço determinado pela editoria do veículo e a imposição do autor a si mesmo. A primeira está relacionada ao tempo dedicado à reflexão e elaboração, antes da atividade da escrita e da publicação. A segunda leva em conta o número de caracteres para cada artigo e/ou coluna. A terceira fica no âmbito do próprio redator e a imposição para escrever o seu texto. Conforme Verón, o colunista é um observador do mundo, enquanto o leitor é um aferidor destas escritas.
Aproximando o conceito de analítica ao universo da análise de fenômenos de midiatização com a perspectiva de estudá-los, Fausto Neto (2008, p.94) propõe que se trata de um "trabalho de leitura realizado por uma modalidade de comunicação, segundo práticas que envolvem dispositivos tecno-discursivos que tomam como referência o modo de existência das lógicas e dos pressupostos da cultura midiática, se estruturam em suas próprias formas de linguagens e por meio de operações de sentido para construir realidades, na forma de textos nos quais se figuram representações sobre a realidade construída".
Entendemos a analítica da midiatização como um conjunto de operações realizadas por um determinado dispositivo, no caso o colunista, visando a instituir relação com o outro - o indivíduo ou o mundo -, no sentido de escutá-lo, mas também de interpretá-lo, elegendo, portanto, como objeto tentativo, a realidade do acontecimento. Em outras palavras, a analítica é o modo de dizer e de escutar o objeto, os atores sociais, bem como de observar o outro no sentido do mundo que circunda o jornalismo, por exemplo.